PRODUÇÃO DE CACHAÇA ARTESANAL, RELATOS DE UM ALAMBIQUE FAMILIAR EM SÃO JOÃO, MARIA DA FÉ/MG
DOI:
https://doi.org/10.29327/1626690.7-7Palavras-chave:
Cachaça artesanal, Desenvolvimento local, Regionalidade, Ruralidade, Sul de Minas GeraisResumo
A proposição desta iniciação foi a de contribuição e adensamento das discussões que já formaram o entendimento da realidade socioeconômica e sociocultural do Sul de Minas Gerais, em termos de desenvolvimento local e regional, considerando a expectativa de novas formas de geração de renda, em que se valoriza a dignidade das pessoas do lugar, seus saberes e histórias.
Buscou-se, tendo como norte o projeto integrador, a realização de uma proposta de iniciação científica que combinasse a Engenharia de Bioprocessos com as Ciências Sociais, tendo como ponte a leitura da produção de cachaça artesanal, a partir de relatos de pessoas envolvidas no fazer de um alambique familiar, este localizado no bairro São João de Cristina, em Maria da Fé/MG.
Na leitura do processo artesanal de produção da bebida, foi possível levantar um conjunto de elementos presentes nos saberes da produção, os quais compõem aspectos da cultura local. Este movimento produtivo, na medida que for ganhando força, tem potencial para promover políticas de geração de renda e emprego, desde que os agentes de desenvolvimento local entendam a potência da cultura como um elemento central.
A justificativa proposta na introdução permitiu trazer para a discussão a importância de levantamento dos elementos que não são valorizados quando se propõe planejamentos urbanos, econômicos, geração de emprego e políticas de cultura para o desenvolvimento local. Dentro desse escopo, há um espaço significativo para superar concepções aprisionadas na lógica do crescimento econômico.
Por sua vez, dentro do objetivo de identificar elementos que englobam a regionalidade, a economia, a ruralidade e a cultura no desenvolvimento do território Sul Mineiro, esta iniciação científica demonstra, dentro do bairro rural de São João de Cristina, em Maria da Fé, que os elementos do território podem produzir um efeito de geração de renda que alavanque desenvolvimento com preservação ambiental, dignidade social e outras formas de economia que não passem pela venda de força de trabalho para terceiros.
O fato da família analisada trabalhar atualmente não possuindo CNPJ para venda de seu produto artesanal demonstra o processo de escanteamento dos pequenos produtores, que se veem obrigados a produzir pouco e na informalidade devido a lógica hegemônica. Resultado da criação de um sistema de produção de cachaça industrial, a venda das bebidas artesanais é pequena, a quantidade de tributação é alta e a competição no mercado com os produtos industrializados é difícil. Essa questão abre espaço para as discussões citadas anteriormente, pois há possibilidades distintas de desenvolvimento e de políticas públicas que possam promover renda digna a partir do conhecimento e saberes das famílias produtoras de cachaça.
Em suma, obteve-se uma leitura sobre o que vem a ser o território do Sul de Minas Gerais, por onde identificou, durante as análises e no campo de pesquisa, as questões do território e os elementos culturais potentes para o desenvolvimento local nesse ambiente ruralizado. Há um espaço importante no entremeio do rural e do urbano que precisa ser explorado para fins de processos populares de geração de renda, tendo a produção familiar de cachaça artesanal um papel relevante neste processo.